sexta-feira, 17 de março de 2017

Acessibilidade e vizinhança

A localização de um imóvel é definida, na literatura de avaliação imobiliária, geralmente por duas características: acessibilidade e vizinhança.

Acessibilidade refere-se geralmente à facilidade de acesso ou a distância a pontos importantes da estrutura urbana. É a acessibilidade a pontos importantes, como centros comerciais, educacionais e vias de trânsito importantes.

Vizinhança refere-se à qualidade da vizinhança do imóvel. A qualidade da vizinhança é uma variável não observável directamente, que geralmente é medida por meio de variáveis socioeconómicas proxy como renda média da população ou nível educacional médio.

Segundo Dubin (1992), o principal factor determinante do valor dos imóveis é a sua localização. A qualidade da vizinhança do imóvel e as suas características de acessibilidade, componentes básicas da definição de localização, devem afectar directamente o preço dos imóveis. Porém, a evidência empírica obtida e mostrada nos resultados de grande parte dos estudos realizados, utilizando modelos hedónicos, mostra resultados contraditórios ou pouco conclusivos neste sentido, com poucos exemplos de coeficientes significativos nas variáveis ligadas à vizinhança e à acessibilidade, quando não resultados incoerentes no sinal esperado dos parâmetros correspondentes da regressão.

Segundo a mesma autora, a forma tradicionalmente utilizada nos estudos de modelos hedónicos para estimar a acessibilidade de um imóvel é incluir, como variável explicativa nos modelos, uma variável distância ao pólo de valorização principal da cidade para ser testada a sua significância como variável da regressão. Este procedimento acarreta implícita a hipótese de que a cidade é monocêntrica, ou seja, que existe somente um centro principal de valorização. Os modelos assim obtidos têm mostrado resultados contraditórios por causa da especificação dos modelos. As cidades são policêntricas ao invés de monocêntricas.

Estudos levando em consideração a natureza policêntrica das cidades têm obtido melhores resultados, encontrando-se evidência de que vários pólos secundários como escolas, universidades, centros de trabalho, centros comerciais, shoppings, vias de transporte principais, entre outros, influenciam directamente o valor dos imóveis próximos a eles. Esta possível influência deve ser testada medindo a distância dos imóveis a cada um deles, testando a sua significância como variável explicativa nos modelos hedónicos.

Por outro lado, a evidência empírica de resultados obtidos em relação aos possíveis efeitos da vizinhança no valor dos imóveis também é variada. Os estudos têm mostrado resultados contraditórios quanto ao sinal e à significância destes regressores nos modelos hedónicos.

Segundo Dubin (1988), um dos motivos para esta falta de resultados positivos encontra-se na dificuldade de medir objectivamente a variável qualidade da vizinhança. Considerando que ela não é uma variável directamente observável, não existe consenso sobre quais seriam as melhores variáveis proxy para representá-la.

Orford (1999) sublinha a importância de incluir as características locais da vizinhança, características naturais, paisagísticas, qualidade ambiental entre outras, nos modelos de regressão hedónicos. O autor propõe que a avaliação da influência de algumas características, tais como acesso a parques, escolas, universidades, assim como a influência de regiões não residenciais, pode ser realizada com o apoio de Sistemas de Informações Geográficas para a pesquisa exaustiva destes possíveis efeitos. Ele propõe também uma classificação de diferentes factores que influenciam na qualidade de uma vizinhança, classificando estes elementos em três níveis de abrangência ou generalidade: nível do imóvel, nível do logradouro e nível da vizinhança. Com o apoio de um SIG, propõe medir de forma automatizada as distâncias a vários possíveis pólos de valorização e construir desta forma factores de localização que seriam testados posteriormente no modelo de regressão.

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