“A Ideologia de Mercado é um advento da
técnica” [Ortega y Gasset; em “A Rebelião
das Massas”;1929] e a Qualidade o seu rendimento socializado, acrescentamos nós.
Tentaremos nas
linhas seguintes explicar a segunda
metade da afirmação .
Admitindo-se
que a Qualidade é função da Inovação e da Técnica e que o Valor de Mercado
função do Rendimento disponível e do próprio Mercado , da produtividade
admite-se que faz variar o ritmo de uma e outra, das duas funções, numa ordem
directa e proporcional.
Por
outras palavras, num sistema económico ou até só dentro de uma empresa com uma
repartição justa da riqueza gerada, o investimento técnico na inovação e na melhoria
da Qualidade, consequente com uma melhoria da produtividade, faz aumentar o
rendimento familiar disponível de quem lá trabalha, obtido na desejável
repartição da riqueza gerada.
Essa
disponibilidade financeira do rendimento, (traduzindo-se em maior
procura de bens de consumo) faz aumentar o valor de mercado, no limite dos
próprios produtos ali fabricados. Por essa via os ganhos industriais da função qualidade, são anulados pelos custos de mercado, da função valor. O que
verdadeiramente resta desta soma é a Qualidade.
Quando, estas funções não estão integradas , não há
verdadeiramente Mercado para a Qualidade, ou melhor dizendo, não há rendimento
nem valor para a Qualidade.
Nestas
circunstâncias a Qualidade, que é sempre uma forma de diferenciação no
mercado, tem os custos anulados tão
somente pelos ganhos de produtividade.Ainda
assim continua a ser uma soma de Qualidade.
Com
ou sem rendimentos provenientes dos ganhos de produtividade, a Qualidade, alicerçada
na necessidade de diferenciação, é sempre verdadeiramente um beneficio ou rendimento social,
proporcionado pelo Mercado e pela técnica.
Há ainda
outros conceitos comummente aceites que ajudam a corroborar esta ideia
de que a Qualidade não é mensurável em valor de mercado, como sejam:
1. Haver uma grande percentagem de qualidade
não percepcionada pelo mercado, particularmente em aspectos tecnológicos de
maior modernidade.
2. Haver uma outra percentagem de qualidade consolidada como exigência do mercado.
3. Haver em cada época e momento uma
padronização da Qualidade, resultante da interacção dos diferentes agentes da
produção e do mercado imobiliário.
5. É o valor,capital disponível, orçamento
possível, ou cotação de mercado, que determina o nível de qualidade a incorporar
no imobiliário e não o inverso.
Isto é particularmente vivido em execução de
projectos de obras de excepção.
Concluindo :
Torna-se difícil, senão impossível a
quantificação do valor da Qualidade, no mercado de habitação, ao nível da
grande produção padronizada que em cada época faz o grosso das cidades.
Resultados encontrados na
análise de regressão, para um segmento homogéneo de mercado dentro do Parque
das Nações e apesar de acentuadas diferenciações no valor de utilização, a
expressar aspectos tecnológicos
diferenciados observados nos diversos edifícios, a Qualidade não revelou uma
correspondente correlação com o valor de mercado, quedando-se por uma afectação
próxima dos 8,00%.
Resultados para a Vila
de Nazaré sobre a totalidade da área
urbana onde independentemente de considerações sobre valor de utilização ou
Qualidade, as variáveis propostas explicam 96,49% do valor de Mercado.
Se dúvida houvesse no resultado da análise feita no Parque das Nações em Lisboa quanto à baixa (ou quase
nula) percentagem em
que a Qualidade se correlaciona com o valor de mercado, o
poder explicativo do modelo encontrado para a Nazaré torna inequívoca essa
escusada, senão errónea, consideração da
Qualidade.
Atente-se ainda ao facto não menos
importante, de nestas amostras terem sido
considerados imóveis com vinte e mais anos em paralelo com edificações novas, tendo
bastado para a homogeneização de todos os dados a consideração prévia da
capitalização seguida da vetustez.
Este
tratamento da amostra, prévio às análises de regressão, relativamente à capitalização
e vetustez integrou todos os dados como
relacionáveis e de valor explicado pela regressão, apesar das acentuadas diferenças
de idade e consequentes diferenças no padrão de qualidade.
É sabido que a “ A qualidade é a adequação do produto ao seu
uso” atrever-nos-emos aqui a substituir o “uso”, pelo “mercado”, porque é disso que
falamos quando se fala de valor.