As limitações mais importantes
encontradas nos modelos tradicionais de avaliação de imóveis por regressão
encontram-se no tratamento apropriado das variáveis de localização e na falta
de consideração dos efeitos espaciais nos resíduos do modelo.
As variáveis de localização, por
serem de difícil enumeração e delimitação, podem provocar problemas de diversa
índole nos modelos de regressão. Tradicionalmente, as variáveis de localização
são incorporadas nos modelos de duas formas: como variáveis de vizinhança,
definindo zonas consideradas homogéneas quanto às suas características de
localização ou como variáveis de acessibilidade, considerando a distância a
pontos ou centros de valorização.
As duas formas de considerar
estas variáveis apresentam dificuldades de consideração nos modelos de
regressão: por um lado, as zonas homogéneas são difíceis de delimitar com
eficiência e critérios objectivos (Gonzalez, 2000). Muitas propostas têm sido
desenvolvidas para superar este obstáculo mas continuam a ser de difícil
aplicação. Exemplos disto podem ser encontrados no uso de Análise Multivariada
para o estudo de zonas homogéneas feito por Can (1990) e na proposta de
zonamento de uma cidade realizada por Cano Guervós (1999). Silva et al. (2004) propõem um método de
definição de zonas homogéneas apoiado em Sistemas de Informações Geográficas
(SIG), usando informações sobre características construtivas dos imóveis,
qualidade dos serviços públicos e análise de valores de mercado dos imóveis.
Muitas vezes são utilizadas como supostas regiões
homogéneas as divisões geográficas provenientes de outros fins como, por
exemplo, limites de bairros, distritos ou sectores. Porém, esta divisão
dificilmente resulta em homogeneidade real, dificultando assim a significância
estatística das variáveis construídas. Por outro lado, mesmo seguindo critérios
objectivos para a definição e delimitação das zonas homogéneas, se estas
regiões forem geograficamente extensas a homogeneidade não será significativa e
se forem muito pequenas pode não haver dados suficientes de mercado para serem
analisadas nas equações de regressão. Estas dificuldades produzem outro tipo de
problemas nos modelos hedónicos: a representação inadequada dos fenómenos de
localização que pode levar à autocorrelação espacial dos resíduos, afectando
assim toda a análise estatística.
Por outro lado, a
consideração de variáveis de distância a pólos de valorização enfrenta
problemas similares. A definição do alcance efectivo de influência de cada pólo
valorizador, a forma funcional da variação do valor com a distância, a
existência de anisotropia no efeito de um pólo valorizador e a quantidade de
dados de mercado podem afectar a significância estatística dos pólos de
valorização de uma região. Estes problemas também podem produzir erros
autocorrelacionados espacialmente, questionando a validade do modelo de
regressão.
Segundo Dantas (2002),
quando se trabalha com dados de corte transversal como no caso dos modelos hedónicos
estimados para o mercado imobiliário, não tem sentido habitual testar a autocorrelação
serial dos resíduos, sendo sim este cuidado indispensável nos dados de séries
temporais. Mas quando se trabalha com dados distribuídos espacialmente, como é
o caso dos dados imobiliários, podem surgir erros de medição em relação à
localização exacta do imóvel assim como efeitos de interacção e difusão
espaciais. Estes efeitos causam um factor adicional que deve ser considerado no
modelo de regressão tradicionalmente utilizado na engenharia de avaliações: a
autocorrelação ou dependência espacial. Não considerar estes efeitos, como
rotineiramente vem ocorrendo na avaliação imobiliária, pode gerar problemas
sérios no modelo, pois a presença de autocorrelação espacial nos resíduos
provoca ineficiência nos parâmetros estimados e os testes de significância e
intervalos de confiança não são tão válidos, podendo as decisões tomadas com
base neles serem enganosas.
Desta forma, a dependência espacial dos valores observados
em relação aos valores dos imóveis vizinhos provocará um erro de especificação
no modelo, pela exclusão de uma variável independente importante que fará as
avaliações tendenciosas e inconsistentes.
Ainda, segundo os mesmos
autores, existem fortes razões para aceitar a hipótese de autocorrelação ou
dependência espacial nos dados de mercado imobiliário: em primeiro lugar porque
os imóveis construídos num determinado bairro de uma cidade apresentam
características estruturais semelhantes (tamanho, projecto arquitectónico,
entre outras) em virtude dos imóveis existentes influenciarem na construção de
novas unidades; em segundo lugar, porque os imóveis que pertencem ao mesmo
bairro dividem questões locais de convivência como serviços de polícia, escolas
e áreas de lazer. As características estruturais são relativamente fáceis de
medir e contemplar nos modelos hedónicos. A medição das características de
localização é bem mais complexa. No entanto, elas são muito importantes na
formação dos valores e devem ser incorporadas no modelo.
Segundo Pace (1998), as
avaliações feitas com base em técnicas de estatística espacial, como, por
exemplo, a metodologia de regressão espacial, apresentam melhor capacidade de
previsão desde que consigam captar os efeitos locais das características
omitidas no modelo tradicional. A Engenharia de Avaliações tem utilizado
historicamente ferramentas desenvolvidas para observações não correlacionadas,
quando na realidade muitas vezes os resíduos de regressão mostram valores
semelhantes em forma de clusters quando localizados espacialmente, especialmente
ao longo de ou próximos dos pólos de valorização.
Mas, não necessariamente em
todos os casos, os modelos espaciais terão melhor desempenho do que os modelos
de regressão tradicional. Quando a estrutura de autocorrelação espacial dos
dados for fraca ou for possível de ser considerada através de variáveis de
acessibilidade simples, os modelos espaciais podem não apresentar vantagens em
relação aos modelos não espaciais (Gao et al., 2002).
Segundo Malpezzi (2002), uma das áreas mais promissoras para
o desenvolvimento teórico e prático dos modelos hedónicos está relacionada com
a modelagem da estrutura de autocorrelação espacial e o uso da tecnologia de
Sistemas de Informações Geográficas, especialmente em aplicações orientadas às
avaliações em massa de imóveis.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Grato pela sua participação.